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Estava a vasculhar o computador e vi isto...reparei que ainda não tinha mostrado. Aqui vai, o fruto de um momento partilhado;



Se eu fosse criança, inundava a cidade, pintava de todas as cores o coração dos que passavam. Respirava todo o ar dos pulmões benignos e, se calhar, algum betão que lá ficou acumulado, até que enchia o corpo todinho e vencia todos os males. Acabava por me deitar ao Sol e derreter toda aquela força sem graça, aquela força que nos faz agir como máquinas-rotineiras modelo 3.04 (fica bem pôr um 0 antes do 4, é mais moderno!) e sorriria para toda a gente ver, para eles, os maus e os bons, os secos e os vivos verem que, se eu fosse criança, seria tudo. Seria tudo menos suburbano menos cinzento, mais tom de vermelho maçã; lembras-te daquela macieira? Suspirou até à última folha, deixou cair o azedume todo que estava no ar, e agora…agora está nua, mas ainda está lá uma maçã vermelha que brilha ao Sol; qual será a história dela? Terá vidas para contar, terá uma lágrima por derramar? Ou lembrar-se-á dos sorrisos de outras maçãs vermelhas, vermelho tom de maçã, que se olharam no seu reflexo?Nunca saberemos, o que a prendia à macieira já não aguentou o peso da pequena maçã; estatelou-se no chão!... Ó! Não! Foi-se tudo embora! Caiu a amargura sob os nossos pés, já não há maçã na macieira, já não há história para contar! Já não há esperança no vermelho dos nossos corações, no reflexo dos nossos olhos. Voltámos ao escuro, mau mau…mas e se somos nós que queremos ver o escuro? E se no mau houver bom? E se o vento não for tão frio como parece? E se a macieira for a semente da luz? E se pé ante pé, dos nossos, pequenino, conseguirmos tocar-lhe…e ver…o céu. Foi isso que eu vi, nos meus olhos, cá dentro, quando derretia o betão, deitada ao Sol. O céu. O céu que, sem a figura da macieira marcada no seu azul, não é nada. Nem no cinzento em que ela vivia. Pois ela era a macieira, e todos nós éramos maçãs vermelhas, do tom mais vermelho maçã. Cairemos, pensei. Agora? Talvez não. Mas talvez um dia, quando a rotina pesar e o modelo se optimizar, cairemos naquela relva coberta de orvalho onde se deita a maçã! Veremos todo o suspiro que não vemos nunca. Aí, nesse dia em que a macieira se levanta e nos abraça, todo o betão e aço e ar benigno de pulmão se libertará, e seremos apenas maçãs à espera de nos lembrarmos dos sorrisos de outras maçãs vermelhas tom de maçã. O céu será ele e a macieira seremos nós. A macieira comanda a vida. Ela existe. Nunca estaremos sós.


Sopas & Stick Boy


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Enquanto ouço Amelie


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Toca a bela música. Toquem dedos, que se cansam. Que se iluminam, que se exaltam em uniformes manchas de luz melodiosa...Cantem as dedilhadas na lisura branca das teclas, que perfuram a madeira como quem busca o ar. Que se dêm as valsas e as danças, que se entornem as notas pelo mundo! Alegria no mundo, alegria feliz ou de luto, que a música nos preenche. Que se fechem os círculos de vento para que os cabelos rodopiem no mais leve sopro de tudo, na vontade simples dos que se despedem. O piano abraça todos como se de um amante se tratasse, como se cada Ré fosse Dó no coração de cada um; como se em Si se libertasse o que Lá se espera, sossegado, moribundo, aflito...o tom de tonalidade musical que asfixia o que nos corre nas veias, o sentido, a razão. Sente-se...É a música!
Piano.
Música...
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simples


Estava a fazer o que sempre faço. Estava a viver a vida e reparei que sinto falta. Neste momento, sinto falta e não escrevo como escreveria, com palavras carregadas de tudo. Simplesmente simples. Sinto falta de ti. Sinto falta das nossas conversas, dos nossos risos. Daquilo que éramos, apenas bons amigos, tão "apenas" como éramos, sem segundas nem terceiras intenções; amigos. Não sei o que se passou, ou se calhar apenas isso tudo realmente passou e eu nem vi. Se calhar nem reparaste...mas sinto que já não somos os amigos que éramos. E daí, talvez eu te tenha tido sempre em maior conta do que tu a mim. Calhou...
Mas sinto falta. Porque não sinto que tenhas reparado, ou até que tenhas feito realmente essa escolha, talvez tenhas; talvez não. Talvez penses "mas donde é que ela tirou esta ideia", mas sinto que fui deixada para trás, que já não sou suficiente boa para que queiras estar comigo, como dantes; porque não estamos na mesma, porque só temos palavras dispersas ou sorrisos ocasionais. O que aconteceu? Não te recriminaria por uma escolha tua. Apenas quero perceber.




...e às tantas nem vais ler isto. Às tantas nem sabes que leio as tuas coisas todos os dias, para saber alguma coisa de ti, porque de ti já não sei.


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