Amanhã será sempre depois.











Amanhã rimos. Amanhã brincamos. Amanhã sonhamos. Hoje perdemo-nos, o ontem de hoje já passou. A vida ficou para trás, andamos às voltas com ar nas mãos. Deixamos cair o hoje para dizermos que tudo ficará bem, gatinhamos no dia a seguir para recuperar o brinco perdido ontem. Mas quando hoje perdemos o outro brinco, deixamo-lo estar e procuramos amanhã. Não saimos da roda viva do futuro não presente, das emoções que deviamos sentir na altura e que não o fazemos. Estamos tão cheios do vazio do hoje que o que desesperadamente queremos só chega amanhã. Então sentimos que foi para nada, a pressão foi estupida, futil. Não percebemos que esse vazio nos empurrava para uma corrente de ar que podia ser benigna e não maligna. Que podiamos voar com esse empurrão para sítios mais frescos, que podiamos ser quem queremos. Mas estamos fechados na pressão, no dia do amanhã. Hoje, a única coisa que conseguimos é chorar, perder forças. Mas já sabemos que amanhã o choro está lá, pois o amanhã é o dia seguinte de hoje. Amanhã rimos. Amanhã brincamos. Amanhã sonhamos. Amanhã choramos.